sexta-feira, 30 de maio de 2008

Quando a simplicidade faz o melhor sabor



Nunca botei muita fé em mulher grávida que se dizia muito enjoada. Talvez por castigo, o tal enjôo pegou em mim. Mas não pegou de levinho, não. Foi daqueles de lascar, ao ponto de eu não conseguir ver um prato de comida na minha frente. Escolher itens no cardápio, nem pensar. Só de imaginar camarões, filés e até sushis, que adoro, já vinha o gofo na garganta. Eca! Uma situação nadinha agradável para uma repórter de gastronomia. Participar de degustações nos restaurantes e já entrar no estabelecimento de cara feia? Sem condições… ! Ainda bem que a previsão de Carol, amiga de redação também grávida, se confirmou. "Calma, Aline, depois da 13ª semana passa". Como não sofri esses pantins na primeira gestação, desconfiei. Mas, graças, passou!

Não sei se é pertinente dividir essa agonia com vocês, caros leitores. Mas a introdução nada apetitosa desta coluna é só para dizer que no meu primeiro trimestre de gravidez teve algo que comi e que me deu prazer. Pode ser que achem simples demais a tal iguaria ou que até digam "isso é coisa de grávida". Mas analisei e percebi que, entre pratos excessivamente bem elaborados, estava preferindo mesmo os mais simples. E a receita que passo hoje é praticamente o cúmulo da simplicidade. Recheada de criatividade. O autor da iguaria que me fez salivar, tirar a barriga da miséria e marcar sabor em minha memória? Alcindo Queiroz.

Quando cheguei ao seu restaurante, o Patuá, em Olinda, o chef me ofereceu um prato novo, à base de camarões, acompanhado por um arroz de cartola. Aceitei, afinal, não se nega sugestão de chef. Eu estava acompanhada por minha mãe, uma comensal de paladar apuradíssímo, que escolheu o mesmo prato. O garçom serviu a mesa e eu… não consegui passar da quinta garfada. Para amenizar a vergonha, minha mãe raspou o prato e "lambeu os beiços". "Estava delicioso, filha!". Que bom, pensei

Alcindo chegou na mesa para certificar se sua criação havia agradado e se deparou com meu prato praticamente intocado. Para minha sorte, como uma miragem, o garçom passou com uma sobremesa atraente para servir a mesa ao lado. Meus olhos grudaram naquelas cores. Na hora, soltei "eu quero aquilo!", que nem "menina buchuda". Alcindo foi para cozinha e me trouxe o Coqueiral. Esse é o nome da criação dos deuses (ou melhor, do chef) que me fez suspirar pela primeira vez, de verdade, nesta gravidez. Uma espécie de carpaccio de frutas tropicais, com fatias sobrepostas e com uma deliciosa bola de sorvete de coco por cima. De quebra, pra melhorar, um pedacinho de banana caramelizada em licor de curaçau. Obrigada, Alcindo! Você fez uma grávida-chata feliz.

RECEITA

Coqueiral
(Por Alcindo Queiroz, do Patuá)

Ingredientes
- Frutas frescas da época
- 02 bolas generosas de sorvete de coco de primeira qualidade
- 02 rodelas de banana
- 10 ml de licor de curaçau
- 01 colher de chá de açúcar refinado
- 01 colher de chá de manteiga
- 02 raminhos de hortelã.


Modo de preparo

Lave as frutas e lamine-as finamente. Num prato sobreponha-as colocando as maiores embaixo. Numa frigideira, doure as rodelas de banana, adicione o açúcar e finalize com o licor de curaçau, desligue imediatamente. Pegue duas generosas bolas de sorvete de coco e equilibre-as sobre a torre do carpaccio de frutas. Como cobertura, coloque as rodelas de banana, decore com os ramos de hortelã e sirva rapidamente, antes que desmonte.


Dicas úteis do chef: Na laminação, nunca corte grosso nem fino demais. O chef não aconselha utilizar frutas da familía das laranjas, nem abacate. Para impressionar visitas estrangeiras nada como frutas da nossa terra, é divertidíssimo tentar adivinhar. As lâminas que receberão as bolas de sorvete deverão estar bem equilibradas e niveladas, senão o prato desmonta. Frutas exóticas como azeitona preta, lâminas de pitomba e a ´lama`do coco, já causaram muita surpresa.

SERVIÇO // Patuá - Rua Bernardo Vieira de Melo, 79, Ribeira, Sítio Histórico de Olinda (em frente ao Mercado da Ribeira). F: 3055-0833.

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