terça-feira, 15 de abril de 2008

Dica para ser feliz no cabeleireiro

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foto: Alexandre Gondim

Ir ao cabeleireiro, para muita gente, é uma obrigação chata. Você fica ali sentado, lendo revistas que nada têm a acrescentar e atordoado com a aquele barulho e fumaça quente de secador. No máximo, passa um cafezinho frio e água gelada. Pelo menos é assim que percebo quando preciso freqüentar um ambiente do tipo para fazer as unhas. Sim, as unhas. Porque cabelo, só corto na casa-salão de Mário e Lili há bem mais de dez anos. E aí você deve estar perguntando: o que danado cabeleireiro tem a ver com comida, já que esta coluna é de gastronomia? Para mim, tem toda relação. Porque sempre que vou à casa deles, há algum sabor bom para se sentir.

Às vezes, para esperar a minha vez, desço a pé até a Praça do Carmo, em Olinda, e como um milho verde ou uma tapioca. Volto com a sacola cheia para os outros clientes do casal-cortador-de-cabelos. Isso quando Mário não oferece um chá divino com biscoitinhos ou uma xícara de mel com favo. Numa sexta-feira dessas, por exemplo, quando começava a bater a fome de final de tarde, Ivo (o filho deles), surgiu com a oportuna pergunta: "Alguém aí quer pão?" Parecia adivinhação. O pão chegou no momento certo, logo degustado em fatias com aquele melzinho do Sertão que só Mário tem. Macio, fresquinho, integral. Estar na naquele cantinho da Cidade Alta proporciona certos tipos de prazer: cortar cabelo na casa de amigos, receber pão na porta e comer enquanto se recebe um cafuné. Tá com inveja? Pois é. Impossível querer melhor.

Os quatro pães que compramos naquele dia eram os últimos da fornada. O quarteto Amandi, Samuel, Cícero e Ubirajara, todos com um pouco mais de 20 anos, já havia percorrido Ouro Preto, Casa Caiada e Bairro Novo. Pedalaram até o Recife e colheram louros por seu trabalho. Em suas bikes, fazem entregas a clientes fiéis. Pela manhã, eles metem a mão na massa, criam receitas diferentes e à tarde saem para vender toda produção. É assim desde 2004. Antes disso, iam à escola e no tempo livre subiam nos telhados dos vizinhos, aperreavam quem passava na rua e não sabiam como seria o amanhã. Foi esse alimento universal que deu noção de dignidade e entregou cidadania aos meninos, hoje profissionais do pão.

Experimentei o integral comum (aquele que comi com mel) e levei para casa um batizado de cartola. A receita, sugerida por um dos clientes de Amandi, é simplesmente maravilhosa, e leva banana comprida, queijo e canela. As tardes olindenses também sabem o quanto são bons os pães de gergelim, linhaça, alho, queijo com azeitona, passas, ameixa, lingüiça e inhame feitos pelos rapazes. Mesmo que você não more em Olinda ou não freqüente a casa de Mário e Lili, não deixe de experimentar o Pão Legal. A bicicleta é capaz de chegar onde você nem imagina.

RECEITA

Pão Cartola
(Por Amandi Gibson, do Pão Legal

Ingredientes
Para a massa:
- 200 ml de água
-10 g de fermento biológico fresco
- 200 g de farinha especial branca
- 150 g de farinha integral
- 4 colheres de sopa de açúcar
- 1 colher de chá de sal
- 1 colher de sopa de óleo de girassol

Para o recheio:
- 1 banana prata madura assada
- Canela em pó a gosto
- 50 g queijo coalho batido
- 50 g queijo parmesão raladoModo de preparo

Modo de preparo
Coloque água num recipiente plástico e em seguida adicione a farinha integral, o açúcar, o sal, o óleo e o fermento. Com o auxílio de uma colher de pau, mexa os ingredientes até homogeneizar a mistura. Ela deverá estar ainda líquida nesta fase. Vá adicionando a farinha branca aos poucos. Polvilhe a superfície da mesa com farinha e coloque a massa semi pronta sobre ela. Agora é hora de pôr a mão na massa. Pode haver necessidade de adicionar mais farinha branca durante este processo. Com a massa já na mesa, vá misturando, trazendo a extremidade sempre para o centro. Sove-a energicamente para misturar bem os ingredientes. A maciez do pão depende do tempo de batida da massa que deve ser aproximadamente uns 15 minutos. Continue trabalhando a massa, comprimindo e esticando contra a mesa até que não grude mais nas mãos e esteja totalmente homogênea. Coloque a massa para descansar coberta por um pano por aproximadamente 30 minutos. Sove a massa novamente após o descanso e com a ajuda de um rolo abra-a bem para poder colocar o recheio.

Com a massa aberta, coloque a banana assada e em seguida o creme de queijo e polvilhe com canela em pó. Feche a massa com cuidado para o recheio não transbordar e coloque o pão numa assadeira untada com óleo, própria para pão, e deixe o pão crescer até a massa dobrar de volume. Isso vai demorar umas duas horas, com forno em temperatura média de 250°C. Coloque o pão em seguida para assar em fogo baixo (180°C ) num intervalo de 40 a 50 minutos. Para saber se o pão está no ponto, assim que ficar dourado, retire do forno e dê socos no fundo do pão. Se perceber um barulho oco, pode retirar do forno.Recheio:Corte a banana prata em tirinhas e asse numa frigideira com óleo. Depois polvilhe com um pouco de açúcar. O creme de queijo é feito com o coalho e o parmesão ralado. Ponha tudo numa panela com 1/4 copo de água e leve ao fogo. Em temperatura, baixa vá mexendo e adicione uma colher de sopa de farinha branca para deixar o creme mais sólido. Deixe esfriar antes de pôr no pão.

SERVIÇO
Pão Legal// Rua Henrique Dias, Varadouro, 151, Olinda. F: 8606-7240.
O pão integral comum custa R$ 3,50 (500 g) e os especiais, R$ 4.