sábado, 22 de março de 2008

Japonês não é tudo igual


...
foto: Alexandre Gondim

Em visita ao bairro da Liberdade, São Paulo, entrei numa casa de refeições bem pequena, com poucas mesas, administrada por um casal de imigrantes e suas duas filhas. Estava só, condição que não me preocupa. Tenho sempre um livro na bolsa que me faz boa companhia. Além do mais, curto esse negócio de freqüentar bares e restaurantes sozinha. Cultuo um hábito feio (mas que tento não deixar transparecer) de ficar com os ouvidos ligados nas conversas alheias das mesas ao lado. Simplesmente, adoro.

Pois bem. Enquanto comia uma porção de sushis de salmão saborosíssima, entraram duas dondocas no restaurante. Pediram sakê e duas missoshiros. Ficaram questionando se era melhor irem para um tal casamento de vestido preto ou lilás. Passou a garçonete, uma das filhas do casal-japa e a senhora mais velha falou com ar de superioridade: “Fofinha, pedi duas missoshiros a você. Será que essas sopas ainda saem hoje?”. A mocinha, muito calmamente, respondeu: “A senhora pediu à minha irmã. Mas vou providenciar”. E a dondoca saiu com outra: “É que vocês são todos iguais, fofinha!”. E a japinha, como heroína dessa história, retrucou: “Sabe que eu tenho a mesma impressão sobre vocês, ocidentais?”

Essa passagem foi há uns quatro anos e ficou registrada na minha memória. Por esses dias, ressurgiu na lembrança quando resolvi sair do meu doce lar para arriscar a sorte em um rodízio de sushis, no bairro da Torre. Foi lá que tive mais uma vez a certeza: japonês não é tudo igual. A febre que caiu sobre o Recife está enchendo o bolso de comerciantes com os populares rodízios de sushis. Tem sushi em churrascarias, lanchonetes e até em refeitórios empresariais. Banalizaram os bolinhos de arroz, vinagre, açúcar e sal, patrimônio da culinária nipônica. Cobertos a maior parte das vezes por pescados crus, deveriam ser preparados e servidos com higiene redobrada. Mas não. Ficam lá, expostos em bandejas, manipulados por qualquer um.

Espertos, os “sushimen” atolam açúcar no preparo como estratégia para fazer o comensal enjoar logo e não aproveitar os R$ 22,90 pagos por pessoa. Prometi a mim mesma que não vou mais encarar essas aventuras e, como já aconteceu uma vez, ter uma dor de barriga daquelas. Aconselho, como uma admiradora de sushis, os restaurantes que oferecem rodízios preparados na hora. Mesmo assim, cuidado para não se iludir com cortes finíssimos de postas cheias de nervos - como a grande maioria empurra aos clientes. A arte de comer sushis exige classe. Na dúvida, reflita da mesma forma de quando se vai comprar um vinho: quanto mais barato, pior. No mais, nesta cidade ainda há restaurantes japoneses sérios, como a Taberna Quina do Futuro, o Sushi Yoshi, o Kojima e o Soho. Este último nos cedeu gentilmente uma receita quente, típica japonesa. Na falta de dinheiro, é melhor comer em casa do que se decepcionar na rua.

RECEITA

Tempurá Ebi
(do Restaurante Soho)

Ingredientes
Para a massa:
- 10 camarões grandes
- 150 g de farinha de trigo
- 35 g de maizena
- 1 ovo
- 300 ml de água
- 1 litro de óleo

Para o molho:
- 150 ml de molho shoyu
- 50 ml de sakê
- 1 colher de sopa de gengibre (sumo)
- 1 porção de nabo (sumo)

Modo de preparo:
Para preparar a massa, coloque num recipiente a farinha de trigo, a maizena, o ovo e água. Bata até a a mistura ficar homogênea. Passe os camarões tratados e sem casca na massa e leve ao óleo quente para fritar. Ao invés de camarões, você também pode usar peixes e legumes como couve-flor, cenoura, cebola etc. Para fazer o molho, misture o shoyu, o sakê, o sumo do gengibre e do nabo e a água aquecida. Molhe os empanados no molho e bom apetite!

SERVIÇO
Restaurante Soho - Av. Conselheiro Aguiar, 1275, Boa Viagem. F: 3325-2666
Sushi Yoshi - Rua Padre Luiz Marques Teixeira, 155, Boa Viagem. F: 3426-2748
Taberna Quina do Futuro - Rua Xavier Marques, 134, Aflitos. F: 3241-9589.
Kojima - Rua Ondina, Pina. F: 3328-3585