sábado, 21 de junho de 2008

Nem todo moleque é igual



Os moleques do Sudeste devem ser diferentes dos moleques do Nordeste, especialmente os de Pernambuco. Digamos que essa minha conclusão um tanto curiosa veio na medida em que pensava num tema para escrever esta coluna de antevéspera de São João. Passei alguns dias matutando sobre isso. Tive primeiro a idéia de falar da festa que fui no ano passado, na casa do coquista Sebastião Grosso, em Goiana. Lembrei que lá o que tinha para comer era milho assado e caranguejo. Receita de caranguejo já passei aqui; e ensinar como se assa milho já seria apelação demais.

No meio da dificuldade, como numa sessão de terapia, fui buscar histórias juninas da infância. Bingo! Na mesma hora me veio o gostinho de pé-de-moleque na "boda-da-recordação". Amendoins torradinhos e caramelizados…humm, delícia! Ah, sim, desculpem. Devo lembrar que meus dias de criança foram no Rio de Janeiro. Por isso que quando cheguei ao Recife e me ofereceram pé-de-moleque levei um susto. Mas que bolo é esse? "É pé-de-moleque, minha filha", me disse uma tia meio que indignada com minha falta de informação. Como não nego nada que possa ir à boca, experimentei. Gostei. E só aí cheguei àquela minha conclusão: nem todo pé é igual; e nem todo moleque escolhe o nome que quer ter.
*Nesta edição, o texto veio menorzinho para dar espaço às receitas dos dois pés-de-moleque da minha vida. Bom São João!

RECEITAS

Pé-de-moleque do Nordeste
(Pela Deli Doces)
Ingredientes
- 6 ovos
- 1kg de massa de mandioca
- 450g de margarina
- 750g de açúcar
- 500ml de leite de Coco
- 2 colheres de chá de fermento (por dentro)
- 200g de castanha crua (por cima)
- 4 colheres de sopa de café pronto(pouca água)
- erva doce
- cravo
- sal a gosto

Modo de Fazer
Primeiro bata o açúcar e a margarina. Junte os ovos e acrescente a massa de mandioca, o leite de coco e o restante dos ingredientes. Misture bem. Depois faça o café e reserve. Faça o chá com erva doce e cravo. Reserve. Junte o café e o chá de erva doce e cravo coado e misture aos ingredientes. Unte uma forma de aproximadamente 40cm retangular em forno moderado por cerca de um hora. Depois corte e sirva.
Pé-de-moleque do Sudeste
(Pela Nestlé)

Ingredientes
-1 xícara (chá) de açúcar
- 1 xícara (chá) de amendoim, torrado e sem pele-
1 lata de leite Moça

Modo de preparo
Leve ao fogo baixo o açúcar e o amendoim, mexendo sempre até o açúcar caramelizar, sem deixar escurecer. Adicione o leite Moça em fio e mexa com colher de cabo longo, por cerca de 15 minutos ou até a massa se desprender do fundo da panela. Unte uma superfície lisa - mármore ou assadeira com manteiga, despeje a mistura e nivele com a ajuda de uma espátula ou rolo de massa. Deixe esfriar e corte em losangos.
Dicas
- O pé-de-moleque só vai dar corte depois de algumas horas do preparo.
- Uma vez que o caramelo é muito quente, utilize uma colher de material que suporte altas temperaturas.
Rendimento: 30 docinhos

terça-feira, 17 de junho de 2008

Petiscos na infância: prevenção ao alcoolismo


Lembro bem que, quando criança, tinha uma historinha muita chata ditada pelos adultos nas festas familiares ou de amigos. Quando os pequenos comensais famintos chegavam perto dos petiscos ao centro da roda boêmia, vinha sempre aquele comando desanimador: "Ei, menina, isso aí é para quem está bebendo!". Decepcionada e louca por amendoins, salgadinhos e croquetes, saía triste de fininho e com um ronco na barriga para esperar o almoço ser servido. Sentava no sofá e pensava com meus borbotões: "quero crescer logo para poder tomar cerveja e uísque e só assim ser liberada para comer brebotes".

Pensamento inocente. Mal sabia eu, que ainda tão pequena, estava sendo aliciada ao alcoolismo por adultos inconscientes. Oras! Por que só quem bebe pode comer pedacinhos de calabresa, bolinhos de bacalhau e pingos de ouro? Essa semana refleti bem sobre isso quando veio na memória uma dessas minhas decepções degustativas infantis. Era 1985, mais ou menos, e estava em veraneio na casa de amigos do meus pais em Itamaracá. No terraço, os grandes tocavam violão, cantavam e bebericavam. Para eles, chegavam deliciosos tira-gostos. Coisinhas miúdas e saborosas que sempre me chamaram atenção. Na primeira patinha empanada de caranguejo que tentei "roubar", levei logo um "se ligue!". "Isso não é para criança!", ouvi de cara. "Que povo maluco", resmungava eu, indignada.

Foi quando a cozinheira da casa passou com filés de agulha fritos na banjeda, bem em frente à criançada. A maioria abaixou cabeça, como quem comete o pecado de admirar a tentação. O cheiro entrou nas minhas narinas e entranhou no meu desejo. Como poderia fazer para comer aquela gostosura, já que era uma bebedora de coca-cola e guaraná? Tomei coragem, fui até os adultos-pirangueiros e perguntei: "posso pegar uma agulhinha destas? A resposta foi: "só uma!" Acreditam? Esse fato virou um trauma no meu juízo e deverá me tirar alguns minutos das sessões de terapia. Foi amenizado na sobremesa, quando as crianças tiveram preferência na degustação de pavê e brigadeiros.

Graças a Deus, não pendi para a bebedeira descontrolada (apesar de ter sido imensamente incentivada para tal, contando com uma ajudinha básica das propagandas massivas à tal droga lícita). Por essas experiências pessoais, faço questão de que as crianças ao meu redor experimentem todos os tipos de tira-gostos de uma mesa adulta. Para acompanhar, suco e refri. Tenho inclusive plena convicção de que filezinhos de agulha fritos são perfeito para o paladar infantil. Aliás, petiscos representam farras gastronômicas para todas as idades. E outra: melhor petiscar bastante na infância para não correr o risco de virar um adulto chato e beberrão.
RECEITA
Filé de agulha frito
(Do Porto do Mar)
Ingredientes
-300 g de filé de agulha
-1 colher de sopa de azeite de oliva puro
-suco de 1/2 banda de limão
-sal e pimenta do reino a gosto
-farinha de trigo para empanar
Modo de preparo
Unte os filés de agulha com o azeite, limão, sal e a pimenta. Misture bem. Passe cada filé na farinha de trigo e reserve. Frite em óleo bem quente e deixe escorrer a gorgura em papel toalha. Sirva com molho rosé ou limão à francesa.

SERVIÇO
Porto do Mar - bar e petisqueria
Rua Regueira Costa, 364, Rosarinho. De terça a sexta, a partir das 17h. Sábados e domingos, a partir das 11h.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sentimentos, arroz e bolinhos

...
foto: Aline Feitosa

Arroz, diria minha mãe, só presta feito no dia. Esse negócio de requentar o branquinho, não tem o mesmo valor na boca. Ainda mais para quem abomina essa cultura sem gosto do arroz lavado. Arroz branco que é arroz branco, pelo menos para as sábias cozinheiras que rodeiam minha vida, é o refogado. Parbolizado, nem pensar. Bom é o grudadinho. Alho frito, cebola dourada que se misturam aos grãos para dar sabor. Depois, água fervente na panela e pronto, deixa secar. A medida da porção, principalmente para esses tempos de inflação, deve ser exata. Afinal, desperdício não pode haver. Mas, caso ocorra, não requente o arroz no dia seguinte. Faça que nem Tia Vera: transforme o velho em novo e frite bolinhos!

Apresento-lhes Tia Vera: uma figura maravilhosa que surgiu em minha vida em 1991. Chegou lá em casa para trabalhar nos serviços domésticos e terminou responsável pela educação (e controle) de uma adolescente "virada no mói de quentro". Confesso: aprontei demais entre os 15 e 19 anos e Tia Vera segurou direitinho parte daquela onda. Com sabedoria, carinho e uma comida que fazia com que todos os meus amigos fossem atraídos, Tia Vera tinha um truque infalível para reunir à tarde toda aquela "adolescentada" em torno da mesa: bolinhos de arroz com suco de caju. Hoje, percebo que era uma tática supimpa para que ela, ao nosso lado, tentasse entender aquele mundo jovem e desvairado.

Além de reciclar arroz, Tia Vera também não deixava escapar restinhos de carne. Tudo virava croquete. O desfiado da carcaça de frango rendia bem em meio ao suflê de chuchu. Pão velho se transformava em farinha de rosca, rabanadas (ou fatias douradas), pudim e finas torradas na manteiga. Banana passada, doce em calda. E assim caminhava Tia Vera, em sua cozinha mágica e seu jetinho materno, que fez meu juízo crescer um bocado.

Essa semana, arrumando armários, encontrei uma preciosidade. O caderninho onde Tia Vera anotava suas invenções culinárias estava escondido no fundo de um caixote. Tirei de lá como se tesouro fosse e, na quinta página, achei a receita dos bolinhos de arroz. Seu sonho, ela sempre dizia, era pegar meus filhos no braço e prepara-lhes papa de aveia para ficarem fortinhos. Não deu tempo. Num dia de sol de 96 ela partiu e a casa encheu-se com cheiro de jasmim. Depois sonhei com ela fritando bolinhos de arroz, coando suco de caju e fazendo a alegria dos adolescentes do céu.

RECEITA

Bolinhos de arroz
(Por Tia Vera, de seu caderninho de transformações)
Ingredientes
-1 prato fundo de resto de arroz cozido
-1/2 copo de leite
-1 ovo batido
-1 colher de sopa de manteiga
-1 colher de sopa de cheiro verde picado
-2 colheres de sopa de queijo ralado
-Farinha de trigo
-Sal a gosto

Modo de preparo
Coloque o arroz num recipiente fundo. Despeje o leite devagar, misture e amasse um pouco o arroz até ficar uma massa. Acrescente o ovo, a manteiga, o cheiro verde e o queijo ralado. Ajuste o sal. Adicione farinha de trigo até o ponto de poder moldar os bolinhos com a mão. Frite em óleo bem quente. Seque em papel toalha e sirva com suco de caju.