terça-feira, 17 de junho de 2008

Petiscos na infância: prevenção ao alcoolismo


Lembro bem que, quando criança, tinha uma historinha muita chata ditada pelos adultos nas festas familiares ou de amigos. Quando os pequenos comensais famintos chegavam perto dos petiscos ao centro da roda boêmia, vinha sempre aquele comando desanimador: "Ei, menina, isso aí é para quem está bebendo!". Decepcionada e louca por amendoins, salgadinhos e croquetes, saía triste de fininho e com um ronco na barriga para esperar o almoço ser servido. Sentava no sofá e pensava com meus borbotões: "quero crescer logo para poder tomar cerveja e uísque e só assim ser liberada para comer brebotes".

Pensamento inocente. Mal sabia eu, que ainda tão pequena, estava sendo aliciada ao alcoolismo por adultos inconscientes. Oras! Por que só quem bebe pode comer pedacinhos de calabresa, bolinhos de bacalhau e pingos de ouro? Essa semana refleti bem sobre isso quando veio na memória uma dessas minhas decepções degustativas infantis. Era 1985, mais ou menos, e estava em veraneio na casa de amigos do meus pais em Itamaracá. No terraço, os grandes tocavam violão, cantavam e bebericavam. Para eles, chegavam deliciosos tira-gostos. Coisinhas miúdas e saborosas que sempre me chamaram atenção. Na primeira patinha empanada de caranguejo que tentei "roubar", levei logo um "se ligue!". "Isso não é para criança!", ouvi de cara. "Que povo maluco", resmungava eu, indignada.

Foi quando a cozinheira da casa passou com filés de agulha fritos na banjeda, bem em frente à criançada. A maioria abaixou cabeça, como quem comete o pecado de admirar a tentação. O cheiro entrou nas minhas narinas e entranhou no meu desejo. Como poderia fazer para comer aquela gostosura, já que era uma bebedora de coca-cola e guaraná? Tomei coragem, fui até os adultos-pirangueiros e perguntei: "posso pegar uma agulhinha destas? A resposta foi: "só uma!" Acreditam? Esse fato virou um trauma no meu juízo e deverá me tirar alguns minutos das sessões de terapia. Foi amenizado na sobremesa, quando as crianças tiveram preferência na degustação de pavê e brigadeiros.

Graças a Deus, não pendi para a bebedeira descontrolada (apesar de ter sido imensamente incentivada para tal, contando com uma ajudinha básica das propagandas massivas à tal droga lícita). Por essas experiências pessoais, faço questão de que as crianças ao meu redor experimentem todos os tipos de tira-gostos de uma mesa adulta. Para acompanhar, suco e refri. Tenho inclusive plena convicção de que filezinhos de agulha fritos são perfeito para o paladar infantil. Aliás, petiscos representam farras gastronômicas para todas as idades. E outra: melhor petiscar bastante na infância para não correr o risco de virar um adulto chato e beberrão.
RECEITA
Filé de agulha frito
(Do Porto do Mar)
Ingredientes
-300 g de filé de agulha
-1 colher de sopa de azeite de oliva puro
-suco de 1/2 banda de limão
-sal e pimenta do reino a gosto
-farinha de trigo para empanar
Modo de preparo
Unte os filés de agulha com o azeite, limão, sal e a pimenta. Misture bem. Passe cada filé na farinha de trigo e reserve. Frite em óleo bem quente e deixe escorrer a gorgura em papel toalha. Sirva com molho rosé ou limão à francesa.

SERVIÇO
Porto do Mar - bar e petisqueria
Rua Regueira Costa, 364, Rosarinho. De terça a sexta, a partir das 17h. Sábados e domingos, a partir das 11h.