sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Sabor em nome da sorte


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foto: Inês Campelo


Quando se vai começar qualquer projeto na vida, o maior desejo é sorte. Hoje, inicio neste espaço charmoso do Caderno de Domingo uma aventura irresistível. Novo ciclo à beira do fogão de alquimistas de aromas e sabores. A cada coluna, 1 pitada de tudo. Sem catar cebola, coentro e colocá-los na beira do prato. Nesta caçarola vai entrar a rabada do boteco da esquina, a feijoada de Dona Vicentina, o foie gras do chef estrelado Michelin. Porque comida boa não depende de ingredientes refinados, mas sim de carinho e vontade de fazer suspirar qualquer ser pela criação. E, acredite: somos todos criadores de boas porções de sabor. Se não criadores, sempre bons comedores. Sendo assim, o primeiro “boa sorte” é para que não engordemos tanto.

O segundo é para que esta nova coluna nos deleite de histórias que girem em torno da mesa; do ser humano e seu amado prato de comida. E, já que andamos precisando de muita sorte (por tantos motivos!), que tal nhoque? A próxima terça-feira será 29, dia em que virou tradição em várias partes do mundo ter a massa à mesa, com molho ou sem. Lembro também que 2008 é ano bissexto, ou seja, teremos após três anos de recesso mais um 29 de fevereiro! Por esse e outros fatores, não poderia de deixar de publicar aqui a receita do nhoque de Francesco Carreta, italiano-brasileiro da olindense trattoria Don Francesco. Em todo 29 o restaurante dele fica com as mesas lotadas. Os clientes fazem questão de colocar uma nota de dinheiro embaixo do prato e comer as sete primeiras bolinhas de nhoque em pé, para que não falte dinheiro até o próximo dia 29. Curioso que Carreta, nascido na região do Veneto, veio aprender aqui no Recife esse costume sem origem legitimada. Em sua terra, nhoque simboliza reunião de família ou, no máximo, homenagem a São Genaro, padroeiro de Nápoles.

Na verdade, a história do surgimento do nhoque gira em torno de diversas lendas. A mais escutada é a de um andarilho que, faminto, bateu na porta de uma humilde casa em busca de comida. Um prato de nhoque lhe matou a fome e dias depois o andrilho ganhou enorme fortuna. De preparo simples, supõe-se que o nhoque exista desde a Idade Média, elaborado com várias farinhas, sobretudo de trigo, arroz e miolo de pão, tudo misturado com água. Após a introdução do milho na Itália, em meados do século 16, surgiu o nhoque de polenta. Mas foi a batata que reinou absoluta do século 17 em diante e mudou a história do prato - mesmo que depois chefs tenham criado variações com ingredientes diversos, como semolina, batata-doce e até macaxeira. Francesco Carreta também criou sua receita original: o gnocchi al gorgonzola, recheado com o queijo e que, ao invés do molho de tomate, deve ser saboreado apenas com manteiga de sálvia. De babar!

RECEITA

Gnocchi di patate (nhoque de batata) (para 4 pessoas)

Ingredientes:
1 kg de batatas
300 g de farinha de trigo
sal gosto

Modo de preparar:

Cozinhar as batatas com a casca. Depois de cozidas, descascá-las e passá-las no espremedor de batatas ainda quando estiverem quentes. Obter um purê e misturar com a farinha, pouco a pouco, até formar uma massa macia e mole. Uma dica: se colocar muita farinha os nhoques ficarão duros e se colocar muita batata eles ficam muito moles e se desfazem ao cozinhar. Quando a massa estiver pronta, fazer longos cilindros com espessura de um dedo. Cortar os nhoques com mais ou menos 3 centímetros. Passe as bolinhas na farinha de trigo. Cozinhá-los em áqua quente e salgada e, assim que subirem à superfície da água, retirá-los imediatamente com uma peneirinha. Colocá-los em uma terrina e cobrí-los com molho de tomate, molho à bolonhesa ou manteiga de sálvia. Acrescente queijo parmesão ralado.

Gnocchi al gorgonzola (noque de batata recheado com gorgonzola)

Fazer o mesmo procedimento do nhoque de batatas. Quando a massa estiver pronta, fazer longos cilindros na espessura de um dedo. Corte os noques com mais ou menos 4 centímetros. Abra cada pedaço com a plma da mão e coloque dentro um pedacinho de queijo gorgonzola. Feche enrolando, como se fosse um brigadeiro. Passe na farinha e cozinhe da mesma forma da primeira receita.

SERVIÇO
Restaurante Don Francesco // Rua Prudente de Moraes, 358, Carmo, Olinda. F: 3429-3852

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu fiz e ficou uma delícia!!!!